Segundo a mãe dele, no ano passado o Inep disponibilizou um notebook

RIO — O estudante Ualace Nunes Araujo, de 24 anos, passou o ano se preparando para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O jovem, que tem paralisia cerebral, frequentava um cursinho social em Três Rios, no interior do Estado do Rio, todos os sábados, levado pela mãe. No domingo, ao chegar ao local onde faria a prova, os dois tiveram uma surpresa desagradável: o notebook que ele precisava para escrever a redação não foi disponibilizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e, por isso, ele não pôde escrever o texto sobre os “desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”.
— Ele está arrasado, estudou, se preparou o ano inteiro para fazer essa prova. E o tema da redação? Como eles podiam negar uma ajuda se colocaram um tema sobre deficientes. Fiquei arrasada, é triste demais você chegar no lugar para fazer a prova com seu filho preparado para o exame e essa oportunidade ser negada — lamentou Lucinalva Nunes Araujo, mãe de Ualace.
Lucinalva contou ao GLOBO que fez a inscrição para o Enem de pessoa com deficiência física e solicitou “auxílio ledor”, como é chamado o apoio para transcrição e acesso a candidatos com deficiência. Segundo ela, quando o filho fez a prova no ano passado, o Inep entrou em contato por telefone para saber de que Ualace precisava para fazer o Enem. No dia da prova, em 2016, foi disponibilizado um notebook lacrado, usado por Ualace para digitar a redação, que foi transcrita para o cartão resposta pelo auxiliar. Esse ano, nada disso ocorreu.
Dedicada totalmente a cuidar do filho, Lucinalva procurou a delegacia da cidade no dia da prova, mas foi orientada a ir ao Ministério Público.
— O Ualace quer fazer Educação Física para desenvolver esportes inclusivos para pessoas com deficiência. No ano passado, ele não fez os pontos suficientes e estava tentando de novo este ano. Tem quatro anos que ele está tentando e não consegue. Eu levava ele todo sábado para fazer as aulas, de 8h às 18h. Fiz tudo para ajudar ele, a minha dedicação é só para cuidar dele — disse.
Munique Fernandes Gomes, tutora de história do cursinho social frequentado por Ualace, contou que todos ficaram muito decepcionados que o jovem não pode fazer a redação. Segundo ela, Ualace é um aluno aplicado e participativo.
— É uma situação muito triste. Ele estava muito empolgado, assistia aula sempre, ia nos horários extras, tentava, se esforçava, participava. O que deixa a gente mais triste é ver a garra dele. Muitos poderiam se enconstar na deficiência e não correr atrás, mas ele nunca fez isso. A garra dos dois é impressionante, tudo foi feito com muita dificuldade — contou.
Procurado pelo GLOBO, o Inep ainda não se pronunciou sobre o caso.
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